Porto Velho, RO - Originária do Peru, a Cinchona Officinalis, por nós conhecida por quina quina, é uma árvore de médio porte,da família Rubiacea e bastante comum em toda a região das selvas amazônicas, principalmente na Floresta Amazônica Peruana e dos Estados do Acre, Rondônia e Amazonas.
A casca, ou cortiça, contém vários alcalóides e o principal deles, o quinino, é um poderoso aliado no combate à malária ou empaludismo.
A quina quina(ou quinina ou quinquina) já era conhecida dos Incas e,após ter curado de empaludismo a esposa do Vice-Rei Espanhol no Peru, Condessa Chinchón, foi levada pelos espanhóis e teve seu nome popular modificado para pó da condessa.
Coube a Carlous Linnaeus, o maior taxonomista de todos os tempos, batizá-la com o nome de Cinchona, um anagrama a partir do nome da condessa.
Posteriormente os padres jesuítas que faziam catequese no Peru, passaram a comercializá-la em forma de pó, quando passou a ser conhecida como Pó dos Jesuitas.
Quando o empaludismo se transformou em epidemia em toda a região de Versailles, Louis XIV importou uma grande quantidade do produto para a França e assim erradicou a doença naquele país. A conclusão é que desde o século XVl a quina quina já era conhecida nos meios científicos e da medicina ocidental.
Quando o médico sanitarista Oswaldo Cruz esteve por estas bandas, durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, mostraram-lhe a planta e falaram de seus benefícios, mas segundo os comentários da época, ele não teria dado maiores atenções e se não morreu mais gente é porque muitos operários tomavam o chá. E alguns até ficavam intoxicados por exagerar na quantidade ingerida, causando em muitos, diarréia.
A quina quina sempre teve seu lugar na medicina cabocla. No Alto Guaporé corre uma lenda que remonta ao tempo em que os escravos fugiram de Vila Bela da Santíssima Trindade e formaram os quilombos ao longo do Vale do Guaporé. Com eles, levaram também o empaludismo, causando grande mortandade entre os moradores dos novos povoados.
Os quilombolas eram amigos dos nativos, pois em comum, resistiam ao escravismo que imposto pelos europeus e seus descendentes.
Conta-se que um velho pajé, curandeiro, teve um sonho no qual Tupã lhe mostrara uma árvore da qual se deveria extrair a casca e fazer um chá, que iria curar todos os doentes. Ao amanhecer ele se embrenhou na selva e encontrou a árvore do sonho, tirou várias lascas e colocou-as em um grande pote de barro com água e deixou ferver.
Quando esfriou o chá, ele começou a ministrar aos mais doentes e devido ao forte amargor, a maioria vomitava e resistia a tomar a beberagem, mas como o pajé era um ancião muito respeitado, engoliram o remédio amargo. Em pouco tempo os mais afetados começaram a melhorar e com a continuidade do tratamento, logo se restabeleceram. A notícia logo se espalhou e todos os povoados passaram a usar o chá amargo.
Em 2011, estive em um dos lugares mais remotos e preservados de Rondônia, Barreiro das Antas, onde passei quatro dias, fotografando a inigualável beleza cênica de lá.
Na primeira noite, uma simpática moradora, D. Mariazinha, filha de índios locais, deu-me uma xícara de chá; quase vomitei e perguntei a ela de que era aquele chá tão amargo que fiz um esforço enorme para beber, e ela me respondeu:
“Quinaquina, pois é o melhor remédio pra malária, tanto pra prevenir,quanto pra curar.
E continuou:
“Aqui não compramos remédios de farmácia, pois não temos,e nem médico. A gente usa os remédios que a mãe natureza nos fornece de graça.”
Coincidência ou não, depois disso já andei por toda nossa Rondônia e em locais altamente endêmicos, mas até o momento,nunca contraí malária ou outra doença tropical.
Todas pesquisas que estão sendo feitas mundo afora para o tratamento da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, Cov-sars-2, levam ao princípio ativo do quinino. É uma ótima oportunidade para a ciência, dando a César o que é de César, reconhecer o verdadeiro descobridor dessa maravilha da natureza: os nativos andinos e amazônicos.
Rosinaldo Machado é fotógrafo e pioneiro da vida de Rondônia.
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