'Revitimização': decisão da Justiça brasileira sobre ator argentino acusado de estupro causa revolta em Buenos Aires

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'Revitimização': decisão da Justiça brasileira sobre ator argentino acusado de estupro causa revolta em Buenos Aires

'Essa decisão é quase uma ameaça, uma advertência, de que não tem sentido denunciar', defende integrante do Atrizes Argentinas, coletivo feminista que apoia a jovem

Porto Velho, RO - “Estamos cansadas, mas não vencidas”. Essa foi a reação de Thelma Fardin, de 29 anos, após a decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, em São Paulo, de enviar o processo contra o ator Juan Darthés para a Justiça estadual de São Paulo.

A sentença é o mais novo capítulo na longa história de desafios encontrados pela atriz argentina na denúncia de estupro contra o galã do país, que também tem nacionalidade brasileira.

No percurso, há o trabalho investigativo de três países, diversos grupos de direitos humanos em apoio à jovem e uma longa batalha judicial que agora volta praticamente à estaca zero.

— Essa decisão é quase uma ameaça, uma advertência, de que não tem sentido denunciar, porque, mesmo que as mulheres falem o que aconteceu, não teremos Justiça. Mas não vamos permitir isso. Continuamos juntas — diz Laura Azcurra, amiga de Thelma e integrante do Atrizes Argentinas, coletivo feminista que apoia a jovem.

Depois de fazer tudo o que precisava a pedido da Justiça brasileira, eles trocam as regras do jogo. E quem tomou essa decisão, infelizmente, são três homens. Isso mostra a falta de perspectiva de gênero do judiciário.

Veterano ator de novelas na Argentina, Darthés, que nasceu no Brasil, é acusado de ter estuprado Thelma durante a turnê de uma peça na Nicarágua, em 2009, quando ela tinha 16 anos de idade e ele, 45. O ator nega ter cometido o crime. O caso foi revelado pela atriz em 2018, como parte do movimento #MeToo na Argentina. Depois da denúncia, ele se mudou para o Brasil.

Segundo a atriz, o colega da produção a forçou a fazer sexo no hotel em que estavam. “Uma noite começou a beijar meu pescoço, e eu disse que parasse. Então ele agarrou minha mão e me disse: ‘Veja como você me deixa’”, afirmou a jovem, em 2018.

“Me jogou na cama, baixou meu short e me fez sexo oral. Segui dizendo que não. Subiu em cima de mim e me penetrou. Neste momento, alguém bateu à porta e eu pude sair do quarto do hotel”.

Em uma entrevista a um canal de televisão, Darthés diz que o ataque nunca aconteceu, e que foi ela quem foi ao seu quarto, se “insinuando”.

Batalha judicial

Atualmente, existe contra o ator uma ordem de prisão emitida pela Interpol a pedido da Justiça da Nicarágua. A Constituição proíbe a extradição de brasileiros nascidos no país. No entanto, o Ministério Público Federal de São Paulo denunciou o ator pelo crime de estupro em abril de 2021, afirmando que “o Brasil possui jurisdição para o processamento e julgamento dos fatos descritos na denúncia, imputados a brasileiro nato e consumados na Nicarágua”.

Em novembro, após o trabalho dos ministérios públicos do Brasil, Argentina e Nicarágua, Darthés começou a ser julgado e, segundo Azcurra, faltava pouco para a sentença quando o TRF-3 tomou a decisão, por 2 votos a 1, de que a competência para o julgamento é da Justiça estadual.

Fonte: O Globo

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