Aeroportos se transformam em pistas de corrida com competições esportivas pelo Brasil

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Aeroportos se transformam em pistas de corrida com competições esportivas pelo Brasil


Pistas de pousos e decolagens de grandes aeroportos dão lugar a eventos de corrida para atletas amadores e profissionais em busca de cenários inusitados

Porto Velho, RO - Você chega no terminal, faz o check-in, passa pela inspeção de segurança e está pronto para embarcar. O destino, porém, fica logo ali: a pista do aeroporto.

No Brasil e no mundo, grandes aeroportos têm usado suas pistas não somente para pousos e decolagens, mas também para corridas que reúnem atletas profissionais e amadores em torno do local inusitado.

“Além de presenteá-los com um evento esportivo em um cenário exclusivo, esta também é uma oportunidade de investir na saúde, na qualidade de vida e no bem-estar. Trabalhamos há anos com isso e percebemos que há um movimento dos atletas em buscarem novos circuitos e paisagens”, diz em comunicado Matheus Vianna, diretor-executivo da Nosotros Live Marketing, uma das realizadoras do Flying Run 2023, corrida que ocupa uma das pistas do Aeroporto Internacional de Brasília.

Marcada para a manhã do dia 27 de agosto, a corrida espera receber três mil pessoas nesta que é a segunda edição do evento. Os primeiros lotes foram vendidos por valores entre R$ 169,90 e R$ 199,90, em que mais de 40% dos ingressos se esgotaram na primeira semana de lançamento.

Atletas e entusiastas na 1ª edição do Flying Run em Brasília em 2019 / Reprodução/Site Aeroporto Internacional de Brasília

São três percursos, de 7 km, 14 km e 21 km, em que o circuito ocupa uma das duas pistas, a qual fica fechada das 6h às 14h – todos os voos são redirecionados para a outra pista, sem impacto nas operações aéreas do dia.

Já na madrugada do dia 12 de novembro, período em que a demanda é relativamente baixa, o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, fecha sua pista de 3.600 metros para sediar a quarta edição de sua corrida esportiva.

Robson Freitas, gestor de operações e segurança do Aeroporto Internacional de BH, explica que o evento seduz entusiastas pela temática da aviação.

“É uma forma de usarmos a infraestrutura que temos para conectar pessoas, fãs, corredores e amantes da aviação. De uma maneira geral, a indústria também enxerga o aeroporto como um local que consegue se organizar muito fortemente a ponto de permitir um evento desse, que não é fácil”, afirma o gestor.

Logística cronometradas

O evento já entrou no calendário de rotina do aeroporto mineiro e neste ano a Santander Track&Field Run Series tem capacidade de receber um número máximo de 2.500 participantes, em que as inscrições são feitas em lotes – o valor do lote atual sai a partir de R$ 199.

Para que o evento aconteça, o gestor de operações do aeroporto explica que o primeiro passo, meses antes, é bloquear o horário no sistema para que companhias aéreas não solicitem voos para o período específico daquele dia.

Depois, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) é informada através de um documento técnico. Com o conhecimento da agência, emite-se então um documento público para informar pilotos e empresas aéreas sobre o evento.

Vem então uma outra etapa, a da segurança, cujas análises de risco são feitas pela Polícia Federal. Formalizações são feitas junto à instituição e o aeroporto assume alguns pedidos, como a inspeção dos indivíduos.

“A partir destes players, que são a Força Aérea, a Anac e a Polícia Federal, estamos com a autorização para fazer o evento. Assim, segue a parte de comunicação, em que negociamos com parceiros e fazemos a publicidade”, descreve Robson.

Aeroporto de BH-Confins tem cerca de 198 mil movimentos de aeronaves por ano / Divulgação

Os passos acima são apenas para autorização do evento. No dia da corrida, outras áreas do aeroporto entram diretamente em cena, com cerca de 200 pessoas trabalhando enquanto a corrida toma conta da pista. “O evento envolve a área de operações, que é o pátio e terminal de passageiros, a segurança, comunicação, manutenção, segurança do trabalho, as lojas e o estacionamento. Ou seja, é algo multidisciplinar”, exemplifica o gestor.

Os preparativos começam do lado de fora: os atletas ficam concentrados no edifício de apoio do aeroporto e logo são liberados para a área restrita, em que o protocolo é passar pelo raio-x. Já no pátio de aeronaves, música e atividades divertem os inscritos até a largada.

Como o aeroporto continua em pleno funcionamento, tudo é milimetricamente cronometrado. No dia da corrida, a arena é aberta às 23h e uma hora depois é liberado o acesso à área restrita. Às 2h ocorre a primeira largada, de 5 km, e às 2h40 acontece a segunda largada, de 10 km. O pátio deve ser esvaziado até às 4h, em que a premiação segue até as 4h30 já do lado de fora.

“O curioso é que a corrida é às 2h e temos uma decolagem programada para 1h30. Então esse avião decola enquanto as pessoas estão esperando, causando um alvoroço com ele taxiando e decolando”, conta Robson.

Enquanto os atletas correm, a equipe segue atrás verificando se objetos caíram na pista. Com a aproximação do horário limite, quem estiver longe da linha de chegada é carregado com ajuda de um carro, para que então o aeroporto siga com a operação normalizada.

Corrida no maior aeroporto do país

Com movimento de 34,4 milhões de passageiros e 243.888 pousos e decolagens registrados em 2022, o Aeroporto Internacional de Guarulhos, o maior e mais movimentado do país, também tem uma corrida para chamar de sua.

A Airport Run deste ano está programada para o dia 3 de dezembro e em breve abrirá as inscrições, em que o limite técnico é de dois mil inscritos para um percurso de 5 km.

“Para o público, o aeroporto é um local totalmente inusitado e diferenciado. A arena do evento tem diversas atrações: as pessoas vão para correr e também para se divertir. Elas retiram o kit, comem por ali, fazem alguma compra. Eu vejo sorriso no rosto delas e entusiasmo, tanto dos patrocinadores quanto dos participantes”, diz Alessandro Zonzini, CEO da Fuse, empresa que organiza a corrida em Guarulhos.

Devido às regras da Anac, a largada é dada pela manhã, às 11h, em que toda a operação aeroportuária segue o fluxo normal. “Não corremos na pista, mas corremos em paralelo, nas áreas restritas. Vamos margeando a pista do aeroporto, ficamos a menos de um metro do avião, mas temos uma barreira que separa a nossa pista da pista do aeroporto”, detalha Alessandro.

Um dia ainda correremos na pista, mas correr na área paralela passando do lado dos hangares é sensacionalAlessandro Zonzini, CEO da Fuse

A corrida é organizada pela Fuse, mas a permissão final, assim como todas as tratativas com órgãos federais, é da GRU Airport, administradora do aeroporto. Das 7h às 10h os inscritos podem retirar seus kits nos guichês do Terminal 3 e uma arena ao lado do edifício garagem é montada com várias ativações.

No ano passado, a terceira edição recebeu o nome de Latam Airport Run e teve inscrições a partir de R$ 95. O valor inclui kit com camiseta e chip que marca a cronometragem. Ao final da prova, os participantes recebem produtos de patrocinadores e frutas.

Prêmios em dinheiro não são o intuito do evento, portanto as recompensas para os primeiros lugares do pódio podem depender dos patrocinadores. Geralmente quando companhias aéreas patrocinam o evento, é comum darem como prêmio passagens aéreas para os três primeiros colocados.

Miami na rota

Uma das principais portas de entrada para brasileiros nos Estados Unidos, o Aeroporto Internacional de Miami também sedia uma corrida anual em uma de suas pistas. O local, que recebeu 37,2 milhões de passageiros em 2021, fecha temporariamente a pista mais ao norte para a corrida, cuja terceira edição está marcada para 21 de outubro.

Chamado de MIA Runway 5k, o evento tem capacidade de receber três mil participantes neste ano, com início no hangar de manutenção da American Airlines e largada programada às 7h30.

Pistas e pátio dos aviões do Aeroporto Internacional de Miami / Joe Pries

A logística é parecida com o passo a passo dos aeroportos brasileiros: primeiro é enviada uma solicitação formal à Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) para aprovação de um evento não aeronáutico, em que o órgão considera o potencial impacto nas operações aeroportuárias.

“O MIA tem quatro pistas de comprimento quase igual, então direcionar todos os voos para as outras três pistas durante algumas horas não tem praticamente nenhum impacto nas operações globais do aeroporto”, explica Indira Almeida-Pardillo, responsável pela comunicação do Aeroporto Internacional de Miami.

As inscrições acabam cerca de uma semana antes do evento, em que o valor atualmente é de US$ 75 (cerca de R$ 364) e ingressos para espectadores saem por US$ 5 (R$ 24). Com o montante, o evento espera arrecadar mais de US$ 30 mil (R$ 145 mil) para uma campanha de combate ao câncer de mama da American Cancer Society.

“A experiência única nos bastidores de correr em uma das pistas mais movimentadas do mundo, combinada com a oportunidade de apoiar uma causa nobre, torna o MIA Runway 5K uma atração procurada para entusiastas da corrida e o público em geral”, finaliza Indira.

A procura foi o suficiente para que a corrida neste ano ganhasse novos voos: outros dois aeroportos de Miami receberam corridas como parte da série do MIA Runaway 5K Series. Em março a corrida foi no Miami-Opa locka Executive Airport e em abril no Miami Executive Airport, com a grande corrida tomando conta do Aeroporto Internacional em outubro.


Fonte: CNN Brasil

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