Ave do Parque Ibirapuera está com pano preso em bico há 10 dias e não se deixa capturar; secretaria diz que lixo é principal ameaça

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Ave do Parque Ibirapuera está com pano preso em bico há 10 dias e não se deixa capturar; secretaria diz que lixo é principal ameaça


Linha de pipa é maior vilã, mas lacres de garrafas de plástico têm alto poder destrutivo: anelzinho aparentemente inofensivo de garrafas de água de coco, por exemplo, podem provocar morte de aves.

Porto Velho, RO - Um pássaro que mora no Parque Ibirapuera, em São Paulo, está dando um baile numa equipe de resgate desde o último dia 4 de setembro. Com um pano preso ao bico, a biguatinga fêmea está bastante ativa e não deixa os funcionários da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente capturá-la para, então, retirarem o lixo que ficou pendurado.

Felizmente, o caso dela não é dos piores que a pasta já recebeu (leia mais abaixo). Da forma como o pano está, ela consegue se movimentar e se alimentar, apesar do incômodo. A situação, porém, pode se alterar de uma hora para outra, ressalta a coordenadora de Gestão de Parques e Biodiversidade Municipal, Juliana Summa.

"Talvez o pano mude para uma posição que possa atrapalhar mais ou até mesmo sair sozinho, mas os tratadores do lago estão de olho e seguem tentando a captura. No momento, dentro do possível, ela está bem."

A principal estratégia para pegá-la é a popular "no susto". "Temos apoio operacional da Urbia [concessionária responsável pela gestão do parque], e os tratadores da secretaria estão cevando a biguatinga na beirada do lago para pegá-la. Tem que ser no susto, na hora que ela for comer."

Se ela for capturada, segundo a prefeitura, vai passar por exames clínicos que vão avaliar seu estado.


Patos, gansos e cisnes se misturam no lago do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. — Foto: Rodrigo Rodrigues/G1


Lixo, o principal problema

A biguatinga (Anhinga anhinga) deu sorte. O lixo deixado no chão de parques da capital paulista e arredores já fez vítimas bem mais graves. Segundo um levantamento da Divisão da Fauna Silvestre (DFS), da secretaria, foram registrados, desde 2017:

* 70 casos de animais silvestres recebidos por problemas com lixo, sendo de 28 espécies diferentes;

* Desse total, 16 casos foram de periquitos-verdes (Brotogeris tirica), seguidos por 6 casos de periquitão-maracanã ou maritaca (Psittacara leucophthalmus);

* 4 casos ocorreram no Parque Ibirapuera; 2, no Parque Estadual do Juquery, e os demais, em outros parques e regiões da cidade;

* 46 ocorrências resultaram em óbito do animal;

* 20 animais passaram por tratamento e posterior soltura;

* 3, porém, não apresentaram condições de voltar à natureza.

A principal vilã é a linha de pipa, mas os lacres de garrafas de plástico têm potencial para mudar esse ranking. O anelzinho aparentemente inofensivo de garrafas de água de coco, por exemplo, pode provocar a morte de aves.

Juliana Summa, da secretaria, explica: "Não sabemos como o bicho consegue enfiar o pescoço no lacre, mas isso pode interferir na alimentação dele. Por vezes, o bicho fica ativo muito tempo, voando e é extremamente difícil conseguir pegar. Quando conseguimos, ele já está debilitado, nem sempre resiste. Quando um animal silvestre deixa alguém pegá-lo, geralmente é porque tem algo muito errado acontecendo".

Não faltam exemplos: "De vez em quando, aparece um animal com lacre de garrafas no pescoço. Uma vez uma garça apareceu com o pescoço todo colorido, de tantos lacres. Isso não deveria nem existir, entendemos que protege e higieniza a bebida, mas talvez tenha algum outro jeito de lacrar, algum que fique fixo, por exemplo".

Há alguns anos, um marreco do lago do Ibirapuera morreu, e a causa foi um desses lacres, segundo o g1 apurou. O anel plástico ficou preso ao pescoço e ao bico do bichinho, de forma que ele não conseguia se alimentar. O resgate foi feito, mas ele não resistiu.

Outro marrequinho do lago teve um fim igualmente cruel: ele engoliu um preservativo, ficou sem poder conseguir comer e morreu. "Só descobrimos o motivo na necrópsia", diz Summa.

As linhas de pipa são as campeãs em causar problema: como ficam enroladas em árvores, à disposição das aves, periquitos e maritacas, por exemplo, usam esse material para fazer ninho. Quando os filhotes nascem, acabam enrolados nessas linhas, que têm cerol e, por isso, chegam até a cortar as patas dos pequenos ou provocar outros ferimentos. "Temos muitos casos de amputação, nem sempre dá para salvar", conta a coordenadora.

Segundo o levantamento da secretaria, os danos causados aos animais somente por linha de pipa somaram 509 casos de 2017 até agora, sendo 102 apenas ao longo de 2020, o ano com mais ocorrências.


Lixo em trilha do Parque dos Búfalos, na Zona Sul de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo


Ações de conscientização

Juliana Summa diz que a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente desenvolve algumas ações de educação ambiental junto com os parques, além de placas em lagos. "Mas o problema é que as pessoas jogam muito lixo no chão. É a principal ameaça. Às vezes vem da rua, não é só dentro do parque. Então não é só uma questão de recolher lixo no parque. Se chover forte, entra lixo no parque, linha de pipa, vem de fora, tem animal que já traz de fora..."

Dados da Urbia, empresa que administra o Parque Ibirapuera, dão uma dimensão da quantidade lixo retirada apenas por lá: desde o início da concessão, em 2020, foram coletadas 10.747 toneladas de resíduos, somando recicláveis e não recicláveis.

"Desse total, 63,7% são cocos, 29,9% são resíduos orgânicos, 4,8% é vegetação e 1,6% são recicláveis. Esse montante equivale a 72 baleias azuis adultas, mamíferos que podem chegar até 30 metros de comprimento", diz a gestora.


Parque Ibirapuera, em São Paulo — Foto: TG

A empresa diz também ter substituído todas as lixeiras do parque por um modelo com um novo design, "pensado na fauna, para justamente evitar o acesso ao lixo". "Uma nova Central de Reciclagem foi inaugurada e receberá visitas de escolas, além de desenvolver atividades educativas ambientais. Nos totens digitais do parque, há uma campanha educativa permanente, para que os usuários sejam educados em relação ao descarte correto do lixo no parque e em toda a cidade", complementa.


Novas lixeiras do Parque Ibirapuera, que pretende dificultar acesso de animais aos resíduos — Foto: Divulgação

"A empresa ressalta que a limpeza dos lagos existentes no Parque é realizada diariamente, mas o tratamento de toda a Bacia do Córrego do Sapateiro, que alimenta os lagos é feito pela Sabesp, que abre a comporta da Estação de Flotação, quando o volume de água é muito grande e ocasiona o aumento de resíduos no lago", afirma a nota.

E finaliza: "a Urbia realiza um trabalho de referência na gestão de resíduos no Parque Ibirapuera, investindo em conscientização ambiental, por meio do Plano de Gerenciamento de Resíduos do Parque, e desenvolveu o projeto Eco 360 que incentiva o descarte consciente de materiais recicláveis por parte dos usuários do Parque. Mais de 380 toneladas de resíduos já foram recicladas e destinadas corretamente, tornando o Parque Ibirapuera aterro zero desde agosto deste ano".


Fonte: G1

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