Navegação noturna está proibida e durante o dia as embarcações enfrentam "praias" gigantes e "montanhas" de pedras. Percurso que durava quatro dias, agora é feito em até 10 dias.
Porto Velho, RO - O rio Madeira atingiu a menor cota da história essa semana: 1,19 metro. Além de afetar o abastecimento de água para milhares de pessoas, a seca histórica revelou "praias" gigantes e "montanhas" de pedras no meio do rio, que dificultam a navegação e, consequentemente, o escoamento da produção em Rondônia.
Há dois meses a navegação noturna está proibida pela Marinha do Brasil e Defesa Civil de Porto Velho. Além disso, a carga das embarcações precisam ser reduzidas pela metade durante o período de estiagem.
"Históricamente nunca tivemos medidas tão baixas para parar as navegações. Se o nível do rio baixa, as quantidades de cargas reduzem. O maior impacto dessa seca é o tempo de navegação que aumenta, pois é necessário redobrar os cuidados com os pedrais", explica o diretor de fiscalizações e operações dos Portos Organizados de Porto Velho, Alfredo Myamura.
De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), o tempo de um percurso que normalmente é de quatro dias, chega a ser de oito a 10 dias devido à seca.
Ainda conforme a Fiero, o Amazonas é o principal fornecedor de combustíveis e gás de cozinha para Rondônia e com a falta de chuvas, as balsas que carregam os produtos estão sendo abastecidas apenas com a metade da carga. A rota entre os dois estados é feita unicamente por meio fluvial.
De acordo com o capitão dos portos da capitania fluvial da Marinha de Porto Velho, Matheus Athaides, durante o dia as restrições estão relacionadas ao tamanho do calado das embarcações (parte que fica submersa): quanto maior, mais riscos de navegar.
Além disso, ele ressalta que é necessário o uso de coletes salva-vidas e atenção extra ao navegar no rio, principalmente nos trechos mais complicados já mapeados.
O rio Madeira possui quase 1,5 mil quilômetros de extensão. No entanto, com a seca histórica registrada nos últimos meses, essa imensidão de água “desapareceu” e deu lugar às “montanhas” de pedras e bancos de areia gigantes onde antes era possível se afogar.
Raimundo Oliveira que trabalha como pescador e bandeirinha (transportes de passageiros) há mais de 15 anos, relata que precisa trabalhar com muita atenção, pois há pedras em lugares que ele não conhecia anteriormente.
"Eu nasci e me criei na beira do rio, eu nunca tinha visto o rio tão baixo que nem agora".
Pescador relata as dificuldades de navegar pelo rio Madeira na seca histórica — Foto: Emily Costa/g1 RO
O pescador também relata que, como opera uma voadeira, poderá enfrentar ainda mais dificuldades se o rio continuar abaixando.
Seca histórica
O nível do rio Madeira baixou mais de 10 centímetros em 24 horas em Porto Velho e ficou abaixo de 1,20 metro pela primeira vez na história. Segundo a Defesa Civil Municipal, se o nível não subir nos próximos cinco dias, a capital deve entrar para o estado de emergência.
Nível do rio Madeira baixou mais de 10 centímetros em 24 horas em Porto Velho — Foto: Emily Costa/g1 RO
Mais de 15 comunidades ribeirinhas, que dependem de poços amazônicos, foram afetadas pela seca do rio Madeira e estão sem acesso à água. Segundo a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia, responsável pelo abastecimento de água em Porto Velho, cerca de 15 mil pessoas estão sem água.
Além disso, a hidrelétrica de Santo Antônio, uma das maiores do Brasil, foi desligada por causa da baixa vazão de água que passa pela calha do rio para gerar energia. A hidrelétrica funciona em sistema de fio d'água, ou seja, mantém um reservatório pequeno e depende da vazão do rio para funcionar.
A seca também causou o desligamento do Linhão do Madeira, uma das maiores linhas de transmissão de energia elétrica do país.
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