Polícia revela esquema de manipulação que ajudou ex de fundador da Embelleze a desviar R$ 122 mi

Monique Elias e Itamar Serpa Fernandes ficaram casados por 8 anos Foto: Reprodução/TV Globo

Porto Velho, RO - Mais de um ano após a morte do empresário Itamar Serpa Fernandes, fundador da Embelleze, um esquema envolvendo extorsão, amizade virtual e e-mails manipuladores foi revelado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. As autoridades apontam que a ex-esposa de ‘Seu Embelleze’, Monique Elias, desviou cerca de R$ 122 milhões de seu patrimônio.

A trama foi exibida pelo Fantástico, na noite deste domingo, 16. dizia que precisava falar verdades importantes para o empresário, sempre foi e-mail. As investigações dão conta que

Monique arquitetou um plano, criando um perfil falso na internet para influenciar decisões do empresário, o afastando dos filhos e de amigos, para conseguir se aproximar da fortuna dele.

Ela teria enviado mais de 2 mil e-mails, durante dez anos, apresentando-se como Jéssica Ferrer, conforme a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco). "Ninguém em seu ambiente de trabalho é de sua inteira confiança", escreveu em uma das mensagens.

"Ela idealizou uma estratégia deliberada e prolongada de manipulação e isolamento, praticada contra o Itamar", afirma o delegado João Valentim Neto.

Abalo emocional e manipulação

O fundador de uma das maiores empresas de beleza das Américas, avaliada em R$ 1 bilhão, tinha quatro filhos até 2011: três do primeiro casamento e um de uma segunda relação. Além disso, ele esperava pelo quinto herdeiro, fruto de sua união com Adriana Siqueira.

Foi quando o filho mais velho, Cláudio, sofreu um acidente fatal de moto na Via Lagos, aos 41 anos. A família afirma que Itamar ficou fragilizado mentalmente e que isso teria aberto uma brecha para que Monique, então com 31 anos, se aproximasse dele.

Natural de Nilópolis, região metropolitana do Rio, ela teria usado a Adriana para se aproximar. As duas se conheceram na academia, quando ela estava se separando de Itamar.

"A Monique malhava na mesma academia que eu, e começava a fazer perguntas aleatórias", explicou ao Fantástico. Ela conheceu o empresário e, em 2012, passou a morar com ele. Ela levou junto seu filho de outro casamento, João, que foi adotado pelo homem. Dois anos depois, ela engravidou e teve gêmeos.

 

Monique Elias e Itamar Serpa Fernandes ficaram casados por 8 anosFoto: Reprodução/TV Globo

Jéssica, a falsa amiga virtual, teria surgido logo no começo do namoro, enviando e-mails dizendo que a ex, Adriana, não prestava. "Itamar, tome muito cuidado com a vag*ba. Sei que isso é repetitivo, mas não deixe nunca, nunca mesmo, de ficar ligado, porque a vida dela é planejar maldades contra o senhor e sua família. Ela vive atrás da sua filha no Instagram e as duas trocas elogios. Estranho sua filha fazer assim", escreveu em uma das mensagens.

“E ele foi acreditando, porque ele mudou totalmente comigo. Ele mudou. Tudo o que dava para o garoto ele não queria mais dar", afirma Adriana.

Em um dos e-mails, Jéssica insinua que ela estaria traindo ele com seu filho Marlon. "Anda saindo com um menino chamado Marlon e fica triste porque ele só quer ficar com ela escondida". Itamar responde: “Grato, estou tomando as devidas providências".

Marlon acabou sendo expulso de casa pelo pai. "Ele falou: ‘você não pode mais usar as coisas da casa, você não pode mais comer aqui, e o mais rápido possível você tem que arrumar um lugar para você'. Do dia para noite", relembra o filho.

A investigação aponta que ela atacava a reputação de membros da família para mantê-lo longe. Outro alvo foi Daniele, que foi tratada pela amiga virtual como 'calculista e interesseira'.

“Sua filha é muito obstinada e não se cansa. Xingamentos, humilhações e provocações, são coisas que ela sabe fazer muito bem", escreveu em um dos e-mails.

Em 2014, um dos alvos passou a ser Jomar, que herdaria o comando da empresa. Pessoas próximas afirmaram que quando ela descobriu que o filho havia se tornado sócio majoritário, passou a fazer um inferno na vida de Itamar. "Cuidado com o Jomar, vimos no vídeo da Embelleze vocês dizendo que são uma só voz, mas Jomar é a voz que beneficia ele", diz Jéssica em uma das mensagens.

Nesse momento, o empresário passa a desconfiar que o filho poderia estar desviando dinheiro, dando em cima de Monique, mandando presentes. Itamar e Jomar dividiam a mesma sala, mas o empresário mandou construir uma parede e os dois cortaram relações.

"Todas as pessoas que o Itamar gostava, ela procurava afastar para que pudesse manter toda essa influencia e poder em cima dele", afirma o ex-CEO, Penha Carvalho.

Mais manipulação

Em 2020, ele descobriu que Monique tinha um caso com Matheus Palheiras e o casamento acabou. Mesmo assim, os e-mails continuavam chegando para o empresário, o incentivando a ajudar a ex-esposa financeiramente.

 
"A Jéssica nas mensagens dizia que a Monique sente sua falta’, ‘ela tem câncer’, ‘ela acha que se ela morrer e que se você morrer também, o jomar vai abandonar os filhos dela’, deixá-los à míngua", afirmou o advogado Leandro Mendonça.

Durante dez anos, ela o manipulou, conforme a Polícia Civil, mas no período final, ela contou com a ajuda de seu filho, João Carlos Tavares da Mata Serpa, e de Matheus, com quem ficou casada até o início deste ano.

"Foi um trabalho de anos, um trabalho de desconstrução de membros da família e da própria integridade mental do Itamar", declarou o advogado Alexandre Costa da Silva.

Itamar morreu em 18 de julho de 2023 depois de não resistir a uma cirurgia. Enquanto estava internado, as investigações apontaram 21 transferências financeiras, no valor de mais de R$ 400 mil retirados da conta de Itamar por João, o filho de Monique, sem a sua autorização.

No dia 15 de maio de 2024, a ex-esposa conseguiu uma decisão judicial para destituir Jomar da presidência da Embelleze e convocou uma assembleia para ocupar o cargo, mas não teve sucesso. Jomar segue como presidente da empresa.

"Ela tem uma verdadeira fixação pela presidência da empresa, até que ela se intitulava Dona Embelleze", reforça o advogado.

No total, de acordo com a polícia, Monique, Matheus e João conseguiram desviar R$ 122 milhões de Itamar, por meio de transferências bancárias, compra e venda de imóveis, alteração na apólice de seguros e fraude no testamento.

Os três foram indiciados pelo crime de estelionato, furto mediante fraude e associação criminosa. Também são investigados por suspeita de lavagem de dinheiro.

Em nota ao Fantástico, Monique lamenta que "mais uma vez, uma mulher honesta, que construiu família e tem três filhos do falecido, esteja sendo vítima de uma campanha para assassinar a sua reputação e ceifar a sua dignidade, antes do devido processo legal, que conduzirá a Justiça brasileira a dizer não mais uma vez para a misoginia, o etarismo e tantos preconceitos sofridos pelas mulheres de todo o brasil, fazendo com que a verdade prevaleça". A defesa de João e Matheus não foram encontradas.